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A Opinião dos Especialistas: Querem Ser Grandes
Maria Helena Cardoso, psiquiatra, psicoterapeuta, ex-presidente da Sociedade Cearense de Psiquiatria
O uso excessivo do álcool é uma situação muito antiga nas civilizações, até mitológicas. Rituais ao deus Baco, o milagre da transformação da água em vinho por Jesus Cristo, a ingestão de bebidas fermentadas nas tribos antigas como características rituais e religiosas. A embriaguez acontecia nos momentos de passagem para a vida adulta, em situações adequadas, como os tradicionais ritos de iniciação.
Segundo Philippe Ariès e Colin Heywood, até bem pouco tempo existiam as idades, mas não havia a infância como instituição. Do século passado para cá, um prolongamento dessa instituição juvenil tem ocorrido e se prolonga até por volta dos 26 e 28 anos de idade, quando termina a formação acadêmica, praticamente às custas da família. E infante quer dizer ainda não falante. Logo, esse comportamento do uso do álcool por sujeitos cada vez mais jovens acontece como se eles tivessem o que dizer, além de mostrar, que em alguma coisa são iguais a gente grande.
Não tendo autonomia antes dos 18 anos, nem liberdade civil plena antes do 21, sendo-lhes quase nada possível por si mesmos, eles se apropriam de certas atitudes parentais numa identificação positiva ou negativa confirmando aspectos que conotam a sociedade de nossos dias. Então vão beber, fazer farras, sexo, conviver... E se destutelarem psicologicamente, recusar a autoridade ética dos pais muito precocemente. Enquanto com uma mão recebem a mesada até acabar o doutorado, com a outra jogam fora o pátrio poder, a influência, a autoridade paternal, e buscam no fazer ilícito ou dos excessos confirmarem-se como adultos. Buscam uma autonomia, uma falsa autonomia, numa caricatura de adultos.
Autor: Janayde Gonçalves
OBID Fonte: Diário do Nordeste - 09/02/2009
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